Talvez desde a quebradeira da antiga Sulca, engolida pela crise cambial no início dos anos 90 – quando milhares de trabalhadores perderam seus empregos do dia para a noite – Caçador não vivia dias de tamanha apreensão em sua economia. O tarifaço do presidente estadunidense atingiu Caçador em cheio. Mesmo que as regras e sua aplicação em relação aos produtos que exportamos não sejam claros, a insegurança já paira no ar e pedidos estão sendo represados, containers avolumam-se nos pátios das empresas que recorrem a férias coletivas e deixam em “standby” as linhas de produção.
O momento fica mais incerto dado o fato de que a figura central da crise é Donald Trump. Quem, como eu, assistiu ao filme sobre seu perfil na Netflix sabe muito bem do que o magnata do setor imobiliário de Nova York que se tornou presidente é capaz. É um arrojado negociador! Especialista em criar o caos e navegar nele. Assim o faz ao taxar praticamente todos os Países do mundo. Pior ainda faz ao Brasil, quando mistura economia com política. Praticamente deixa embaralhada uma mesa de negociação que deveria se ater apenas em acordos e balança comercial.
A chave virou e esses assuntos de geopolítica não são mais só uma notícia despretensiosa que vemos na TV. Agora precisamos assistir alertas a cada passo dado em todas as partes do mundo. Faltando poucos dias para começar a valer a taxa extra de 40% que somados aos 10% do início do ano poderá aumentar o pedágio para vender aos EUA em 50%, os empresários de Caçador ainda se afogam na incerteza. E não é culpa deles! As ordens executivas assinadas por Trump realmente são pra lá de dúbias quando falam da madeira e de seus derivados, base de 80% de nossa exportação.
Conversei longamente na noite desta sexta-feira (1º de agosto) com o deputado federal Valdir Cobalchini (MDB) que está em Brasília. Aliás, um dos poucos parlamentares (senão o único) que preferiu não ficar na guerra das narrativas políticas da rede social e interrompeu o recesso e foi até a Capital Federal buscar saber mais e propor medidas protetivas para a nossa indústria (leia mais aqui).
Cobalchini ouviu do vice-presidente e ministro da Indústria e Comércio, Geraldo Alckmin que em relação a exportação de madeira e seus subprodutos, no próprio Governo Federal, ainda existe muita incerteza sobre a aplicação das taxas até 50%. O parlamentar vai passar o final de semana na Capital Federal e no início da semana se reunir com técnicos do Ministério para tentar ter uma interpretação melhor.
É essa incerteza que pegou a indústria madeireira em cheio. A ordem executiva fala em não taxar em 50% madeira tropical e fala em taxar móveis (com exceção de “artigos de aeronaves civis”), porém, há muitas brechas e muitas intepretações subliminares. O setor de derivados de madeira e celulose é muito amplo.
Além disso, Cobalchini ouviu do próprio ministério que há um acordo comercial ajustado no início do ano e válido até final do ano que pode ser um alívio para o setor moveleiro fugir da taxação. Enfim, há muito estudo jurídico em curso. A própria Fiesc e os departamentos jurídicos das empresas buscam entender melhor sobre o enquadramento em relação a cada produto.
Gelo no sangue
A real é que enquanto esse cenário do que é taxado e o que não é taxado não clarear, é necessária muita paciência. É hora de gelo no sangue, tanto para a classe empresarial quanto para as milhares de pessoas que podem ser impactadas caso a crise se agrave. Não existe cenário de terra arrasada, mas os “cavaleiros do apocalipse” também não estão errados em lembrar a gravidade do momento, afinal de contas, os prejuízos já são calculados. O momento é de distensionar e apostar na força de negociação e da diplomacia.
A própria lista de 700 itens não taxados mostra que a fome por taxas de Trump tem limites no próprio mercado americano que o pressiona. Nesta sexta (1º) ele se predispôs a falar com o presidente brasileiro. Trump é um negociador hábil, primeiro estabelece barreira insuperáveis e depois as cede para estabelecer a base dos seus termos.
Importante lembrar também que os EUA é o país do capitalismo. Vale apontar que todos os setores que tiveram a taxação fixada em apenas 10% contrataram grandes escritórios de lobby lá nos EUA, onde a prática é legal e tem força sobre as decisões do governo. Talvez seja um caminho para o setor madeireiro.
Orgulho para Caçador
As grandes indústrias exportadoras de Caçador sempre foram motivo de orgulho para a cidade. São elas que elevam Caçador à condição de Capital da exportação e nos colocam entre os municípios com maior PIB do Estado. Precisam ser protegidas, pois dali muitas pessoas tiram o sustento para suas famílias. O grande empresário não é um vilão, bem pelo contrário, é uma engrenagem que faz Caçador uma potência econômica. Pelas redes sociais há quem sustente o nós contra eles, o pobre contra o rico. Discurso totalmente desnecessário, ainda mais num momento como esse. Caçador sairá dessa e sairá unido!
Novos mercados
No mundo dos negócios dizem que uma crise é uma oportunidade. Não resta dúvidas que passada essa turbulência, há que se buscar novos mercados para os produtos caçadorenses. Nossas empresas não podem ficar dependentes 100% de um único cliente/país. Mas isso exige tempo e estratégia. O momento é de negociação. É de mitigar danos. E é nela, na sagrada mesa de negociação, que Caçador vai encontrar a solução para superar as taxas de Trump e retomar o envio de seus produtos ao mercado americano. A pujança do empreendedor caçadorense já superou tantas crises. Essa será mais uma!
A semana vai terminar melhor do que começou, torçamos!